O GRANDE FUTURO DE STANISLAS WRAWINKA
Depois deste demasiado prolongado
interregno (de duas semanas) nas minhas habituais crónicas – que também
utilizei para por um pouco em ordem a minha coleção de slides de Ayrton Senna
que já estão a ser digitalizados para os partilhar convosco num lote de mais de
5.000 fotos, inclusive de outros fotojornalistas e mesmo de alguns amadores – retomo
a regularidade destes meus comentários. E, apesar da extraordinária vitória de
João Barbosa nas “24 Horas Rolex de Daytona”, de realçar a todos os níveis,
sobretudo pela competitividade da corrida deste ano, retomo o mesmo tema com
que comecei este blog a 10 de setembro último: ténis. Nessa minha primeira
crónica escrevia: “Neste US Open pode prever-se o grande futuro do suíço
Stanislas Wawrinka…”
Neste fim de semana
assistimos uma das mais históricas finais de um Grand Slam – o KIA Australian
Open, em Melbourne – entre o número um mundial Rafael Nadal e o suíco. Este
encontro foi estatisticamente histórico por vários motivos:
- Depois de 26 sets
consecutivos ganhos por Nadal a Wrawinka, este ganhou-lhe um set pela primeira
vez – e logo o primeiro.
- Foi a primeira vez –
em 13 encontros - que o suíço ganhou ao espanhol.
- Por coincidência, o
novo treinador de Wawrinka – Magnus Morgan, que tem melhorado bastante o jogo e
sobretudo o comportamento psicológico do suíço – também só à 13ª vez conseguira
ganhar a outro número 1 mundial – Roger Federer.
- Foi a primeira vez
que o mesmo tenista conseguiu no mesmo torneio ganhar aos dois primeiros do
ranking mundial (Wawrinka eliminara Novak Djokovic nas meias finais).
- Quem entregou os prémios deste
memorável final foi também Pete Sampras no 20º aniversário da sua vitória neste
torneio.
- Pela primeira vez, Roger Federer
deixa de ser o número 1 suíço, já que, agora, Wrawinka passa a 3º do ranking
mundial e Federer a 8º.
Dúvida que persistirá: Sem lesão, teria Nadal perdido?
Claro que os muitos fãs de “Rafa”
dirão sempre que ele só perdeu esta final porque uma lesão nas costas que o
afastou do court pelos regulamentares seis minutos para atendimento médico no
final do 3º jogo do 2º set (2-1 para Wrawinka) e que lhe causou bastante
sofrimento durante o resto do encontro. Bastou ver os lentos primeiros serviços
do espanhol (jamais acima de 160km/h, enquanto Wrawrinka fez 19 azes contra apenas
um de “Rafa”) depois da lesão e olhar para o seu rosto para ver que jogou em
sofrimento e bastante diminuído. Mesmo assim ainda ganhou um set (o 3º) ao seu
amigo com quem costuma treinar.
Entendo que Nadal perdeu esta final
com os erros cometidos no 7º jogo do primeiro set quando – a perder por 4-2 –
desperdiçou três “break points” com Wrawrinka a servir. Se tivesse ganho esse
jogo iria servir com uma desvantagem de apenas 4-3 e toda a história do jogo
poderia ter sido outra, lesão ou não lesão. Até porque o suíço cometeu a maior
parte dos seus erros justamente quando Nadal estava inferiorizado, e, por isso,
perdeu o 3º set.
No entanto, não pode haver dúvidas de
que Wrawrinka não só “entrou a matar” nesta final usando bem a vantagem de
começar o encontro a servir, como teve uma exibição sensacional, mostrando
maior maturidade e um potencial enorme, mesmo muito grande, a ponto de eu – sem
seguir de perto os meandros do ATP – atrever-me a prognosticar que este jovem de
28 anos com um corpo que ninguém poderá dizer ser de um atleta de alta
competição, é um potencial número um mundial, caso Nadal e Djokovic, “se
distraiam” ou tenham algum problema.
Como dizia – e muito bem – um dos
competentes e conhecedores comentadores do Eurosport, a sua esquerda a uma mão
não só é a melhor de todos os tempos, como, digo eu agora, pode por em causa o “back
hand” a duas mãos, embora esta seja preferivelmente adotada atualmente para
todos os jovens iniciantes. A certeza, a rapidez das suas esquerdas cruzadas
são únicas no ténis mundial. Segundo o comentador Eurosport, isso também se deve
à sua pega muito fechada.
Com desfecho inesperado (3-1) para
Wrawrinka, esta foi uma final para não esquecer durante muito tempo. Um grande
espetáculo graças à tenacidade, à garra de Nadal na sua decisão de não abandonar
o encontro, ganhar o 3º set e manter-se até final com bastante sacrifício que
se viu nas suas lágrimas.
Só lamentei que a organização de
Melbourne não se tivesse lembrado de pedir ao grande, ao enorme, Rod Laver – de quem este court
principal tomou o nome, Rod Laver Arena – de também estar junto aos que
entregaram os troféus a estes dois novos gigantes do ténis mundial. Ainda me lembro
bem das suas vitórias em Wimbledon que cobri, então como correspondente de “A
Bola” em Londres, e me fascinaram a ponto de o considerar ainda o “Melhor
Tenista de Todos os Tempos”, mesmo considerando o tão diferente ritmo e velocidade
do ténis atual.
Este australiano de 75 anos é ainda o
único a ganhar todos os torneiros do Grand Slam em dois anos consecutivos, e,
caso, como aconteceu com Ken Rosewall, não tivesse sido impedido de jogar em
Grand Slams de 1963 a 1967 por ser profissional (nessa época os grandes torneios
eram reservados a amadores). Esta proibição foi retirada em 1969, quando se
iniciou a “Era Open”.
Um realce final para o árbitro
português desta final – Carlos Ramos,
que soube “domar” com serenidade e tato o momento nervoso de Wawrinka quando
Nadal saiu do court para tratamento médico. Depois de ter sido o “chair umpire”
das finais dos Jogos Olímpicos e de Wimbledon este é mais um português de quem nos
devemos orgulhar.
Próximas crónicas em continuação de temas suspensos
Sei que estou em falta para convosco em,
pelo menos a continuação dos seguintes temas:
- 10 anos de Historic Festivals em Portugal
(publicados apenas os dois primeiros “capítulos” dos prováveis cinco, ou mesmo
seis).
- Os salários milionários dos
desportistas, e, agora, os meus comentários sobre a excelente série de três reportagens
– “Fora de Jogo” – e respetivos debates, a respeito das dificuldades económicas
de muitos jogadores de futebol após o seu abandono dos relvados.
- Fotos inéditas de Eusébio (e Pelé) feitas
por mim em Inglaterra nos anos sessenta.
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