Não posso deixar de reproduzir o texto do meu amigo Flávio Gomes, que é uma delícia, como de costume, pela qualidade e, sobretudo, pela forma sarcaz com que sempre comenta tudo.
SÃO PAULO (esquisito) – Alguém há de dizer que a grande atração de hoje em Jerez seria Alonso andando com o novo carro. Ou então as apostas sobre em qual volta a Red Bull iria quebrar. Ou até a apresentação da Marussia. Mas, para mim, novidade mesmo seria ver Massa num carro sem motor Ferrari e pintado de outra cor que não o vermelho, que ele trajou nos últimos oito anos.
Achei escuro. Escuro o azul, escura a foto. Tem de ver isso aí. Se bem que gosto desse azulão. Que, insisto, não é a pintura definitiva da Williams — que terá a Martini como principal patrocinadora, segundo o Américo Teixeira Jr.; se vier Campari, vamos reclamar.
E como para mim a atração do dia era ver Massa na Williams, informo que o brasileiro completou 47 voltas, achou todos muito gentis e “emocionante” a experiência de andar com um carro novo. E também com um motor alemão, em vez de italiano — mesmo na Sauber, Massa só sabia, até hoje, o que era acelerar motores Ferrari na categoria. Sobre as exigências do novo regulamento, “precisa entender como dirigir com esse motor, esse chassi, esses pneus e o turbo, mas é divertido”.
Bom, se precisa entender tudo isso, pode ser qualquer coisa, menos divertido. Deve, mesmo, ser trabalhoso. Piloto, neste ano, vai fazer alguma diferença, podem crer — os caras estão tendo de reaprender a dirigir.
E confiabilidade, também. O carro terá de ser confiável, especialmente no começo da temporada. Tipo aquele amigo para quem você pode contar seus piores segredos, sabendo que ele não vai te entregar. E nem todo carro é assim. Tem alguns que te sacaneiam com fios de cabelo e perfumes indesejáveis, se é que me entendem.
Mas vamos em frente, sem deixar de registrar que Massa ficou em segundo hoje, 1min23s700, contra 1min23s276 de Kevin Magnussen, da McLaren, o mais rápido do dia. Estreante e igualmente emocionado, o jovem dinamarquês. “Não consegui dormir e parecia que tinha borboletas no estômago”, declarou o imberbe.
Aqui, uma observação. De onde vem essa expressão idiota “borboletas no estômago”? Que sensação é exatamente essa, de ter borboletas no estômago? Alguém já engoliu borboletas vivas, várias, para dizer o que acontece quando elas começam a bater asas no estômago? E que borboletas sobrenaturais são essas que não morrem esmagadas pela laringe, epiglote e traqueia? E se ainda assim chegarem voando ao estômago, como alguém imagina que elas resistirão aos sucos gástricos que derretem até picles do Big Mac?
Bem, com borboletas ou sem elas, o rapaz fez o melhor tempo da quinta-feira depois de 52 voltas. E foram mais 40 com Button, pela manhã, uma marca significativa para o carro que, no primeiro dia, nem saiu dos boxes. Ponto para a Mercedes, que pelo jeito larga na frente no quesito motores-turbo-com-sistema-incompreensível-de-recuperação-de-energia. Unidades de força. Power units. É como vão ser chamados os motores este ano. Tucanaram os motores.
Falando nela, a Mercedes, Hamilton saiu de Jerez feliz da vida com suas 62 voltas, todas elas com a asa dianteira no lugar. Fez o terceiro tempo do dia e só parou quando um problema de transmissão fez com que parasse. Paddy Lowe, o relógio de ponto da equipe, informou que Lewis saiu dos boxes, de manhã, “alguns minutos” depois que a pista foi liberada; e “pontualmente às 14h30 depois do almoço”. É um Big Ben ambulante, o Coelho da Alice.
Alonso teve o primeiro gostinho com a F14 T na Ferrari, conseguiu completar 58 voltas (perdeu a telemetria no início e o time mandou parar o carro) e se disse emocionado por “poder pilotar de novo diante da minha torcida”. Olha, não sei se tinha muita gente em Jerez. Em todo caso, é possível mesmo que quem estivesse lá torcesse por Alonso. “Temos potencial para progredir e isso é encorajador”, falou o asturiano. Tradução: “Não andou nada, mas me juraram não é tão ruim assim”.
A turma da Renault viveu mais um dia daqueles. Vergne conseguiu dar 30 voltas com a Toro Rosso e se disse aliviado por notar que a “unidade de força” funcionou. De novo, acostumem-se. Vai ter muito “power unit” sendo dito neste ano, para descrever motor + ERS, o sistema de recuperação de energia que substitui (na verdade, sofistica e complica) o KERS, apesar de ter uma letra a menos. Ricciardo, coitado, conseguiu dar míseras três voltas, nenhuma delas cronometrada, e a Red Bull teve “os mesmos problemas de ontem”, segundo o engenheiro Andy Damerum — que sempre que vai a um bar pede um Montilla Ouro sem jamais se dirigir ao barman com frases que comecem por pronome.
Legal a Red Bull começar o ano tropeçando. Significa que as outras equipes têm chance de batê-la, neste ano. Ou, ao menos, de dar trabalho. Ninguém gosta de domínios tão absolutos como o de Vettel em 2013. A gente quer competição, não desfile.
Sauber, agora. Primeiro dia de Sutil na nova equipe e algum trabalho para os mecânicos que vão virar a noite consertando o carro. Adrian bateu. Antes, completou 34 voltas. Achou o novo motor forte, “com muito mais torque e silencioso”. Silencioso? OK, não é como antes, mas não força, moço. Outra constatação de Sutil: “O pneu duro é muito duro”. Ao seu lado, um técnico da Pirelli rabiscou num papelzinho: “Não diga”. E olha só: o alemão falou que a principal dificuldade foi com o “brake-by-wire system”. Começam a surgir pistas sobre esses freios diferentes, sobre os quais Button já havia comentado ontem. Tem caroço nesse angu. Com freio não se brinca. Depois eu explico do que se trata.
A Force India andou pouco com Hülkenberg, apenas 17 voltas. Quem estava em Jerez notou que o alemão não deu as costas para o bico do carro em momento algum. Caterham e Marussia também rodaram pouco e nem fecharam voltas cronometradas. Chilton achou que foi muito. “Cinco voltas significam muito mais do que vocês pensam!”, bradou para três caras diante dos boxes que ele achava que eram repórteres, mas na verdade eram do serviço de limpeza.
Os testes de Jerez terminam amanhã. Se não chover, a Pirelli vai molhar a pista de novo com Maldonado ao volante do trator-pipa. Se o venezuelano não aparecer, Grosjean está de sobreaviso.
Achei escuro. Escuro o azul, escura a foto. Tem de ver isso aí. Se bem que gosto desse azulão. Que, insisto, não é a pintura definitiva da Williams — que terá a Martini como principal patrocinadora, segundo o Américo Teixeira Jr.; se vier Campari, vamos reclamar.
E como para mim a atração do dia era ver Massa na Williams, informo que o brasileiro completou 47 voltas, achou todos muito gentis e “emocionante” a experiência de andar com um carro novo. E também com um motor alemão, em vez de italiano — mesmo na Sauber, Massa só sabia, até hoje, o que era acelerar motores Ferrari na categoria. Sobre as exigências do novo regulamento, “precisa entender como dirigir com esse motor, esse chassi, esses pneus e o turbo, mas é divertido”.
Bom, se precisa entender tudo isso, pode ser qualquer coisa, menos divertido. Deve, mesmo, ser trabalhoso. Piloto, neste ano, vai fazer alguma diferença, podem crer — os caras estão tendo de reaprender a dirigir.
E confiabilidade, também. O carro terá de ser confiável, especialmente no começo da temporada. Tipo aquele amigo para quem você pode contar seus piores segredos, sabendo que ele não vai te entregar. E nem todo carro é assim. Tem alguns que te sacaneiam com fios de cabelo e perfumes indesejáveis, se é que me entendem.
Mas vamos em frente, sem deixar de registrar que Massa ficou em segundo hoje, 1min23s700, contra 1min23s276 de Kevin Magnussen, da McLaren, o mais rápido do dia. Estreante e igualmente emocionado, o jovem dinamarquês. “Não consegui dormir e parecia que tinha borboletas no estômago”, declarou o imberbe.
Aqui, uma observação. De onde vem essa expressão idiota “borboletas no estômago”? Que sensação é exatamente essa, de ter borboletas no estômago? Alguém já engoliu borboletas vivas, várias, para dizer o que acontece quando elas começam a bater asas no estômago? E que borboletas sobrenaturais são essas que não morrem esmagadas pela laringe, epiglote e traqueia? E se ainda assim chegarem voando ao estômago, como alguém imagina que elas resistirão aos sucos gástricos que derretem até picles do Big Mac?
Bem, com borboletas ou sem elas, o rapaz fez o melhor tempo da quinta-feira depois de 52 voltas. E foram mais 40 com Button, pela manhã, uma marca significativa para o carro que, no primeiro dia, nem saiu dos boxes. Ponto para a Mercedes, que pelo jeito larga na frente no quesito motores-turbo-com-sistema-incompreensível-de-recuperação-de-energia. Unidades de força. Power units. É como vão ser chamados os motores este ano. Tucanaram os motores.
Falando nela, a Mercedes, Hamilton saiu de Jerez feliz da vida com suas 62 voltas, todas elas com a asa dianteira no lugar. Fez o terceiro tempo do dia e só parou quando um problema de transmissão fez com que parasse. Paddy Lowe, o relógio de ponto da equipe, informou que Lewis saiu dos boxes, de manhã, “alguns minutos” depois que a pista foi liberada; e “pontualmente às 14h30 depois do almoço”. É um Big Ben ambulante, o Coelho da Alice.
Alonso teve o primeiro gostinho com a F14 T na Ferrari, conseguiu completar 58 voltas (perdeu a telemetria no início e o time mandou parar o carro) e se disse emocionado por “poder pilotar de novo diante da minha torcida”. Olha, não sei se tinha muita gente em Jerez. Em todo caso, é possível mesmo que quem estivesse lá torcesse por Alonso. “Temos potencial para progredir e isso é encorajador”, falou o asturiano. Tradução: “Não andou nada, mas me juraram não é tão ruim assim”.
A turma da Renault viveu mais um dia daqueles. Vergne conseguiu dar 30 voltas com a Toro Rosso e se disse aliviado por notar que a “unidade de força” funcionou. De novo, acostumem-se. Vai ter muito “power unit” sendo dito neste ano, para descrever motor + ERS, o sistema de recuperação de energia que substitui (na verdade, sofistica e complica) o KERS, apesar de ter uma letra a menos. Ricciardo, coitado, conseguiu dar míseras três voltas, nenhuma delas cronometrada, e a Red Bull teve “os mesmos problemas de ontem”, segundo o engenheiro Andy Damerum — que sempre que vai a um bar pede um Montilla Ouro sem jamais se dirigir ao barman com frases que comecem por pronome.
Legal a Red Bull começar o ano tropeçando. Significa que as outras equipes têm chance de batê-la, neste ano. Ou, ao menos, de dar trabalho. Ninguém gosta de domínios tão absolutos como o de Vettel em 2013. A gente quer competição, não desfile.
Sauber, agora. Primeiro dia de Sutil na nova equipe e algum trabalho para os mecânicos que vão virar a noite consertando o carro. Adrian bateu. Antes, completou 34 voltas. Achou o novo motor forte, “com muito mais torque e silencioso”. Silencioso? OK, não é como antes, mas não força, moço. Outra constatação de Sutil: “O pneu duro é muito duro”. Ao seu lado, um técnico da Pirelli rabiscou num papelzinho: “Não diga”. E olha só: o alemão falou que a principal dificuldade foi com o “brake-by-wire system”. Começam a surgir pistas sobre esses freios diferentes, sobre os quais Button já havia comentado ontem. Tem caroço nesse angu. Com freio não se brinca. Depois eu explico do que se trata.
A Force India andou pouco com Hülkenberg, apenas 17 voltas. Quem estava em Jerez notou que o alemão não deu as costas para o bico do carro em momento algum. Caterham e Marussia também rodaram pouco e nem fecharam voltas cronometradas. Chilton achou que foi muito. “Cinco voltas significam muito mais do que vocês pensam!”, bradou para três caras diante dos boxes que ele achava que eram repórteres, mas na verdade eram do serviço de limpeza.
Os testes de Jerez terminam amanhã. Se não chover, a Pirelli vai molhar a pista de novo com Maldonado ao volante do trator-pipa. Se o venezuelano não aparecer, Grosjean está de sobreaviso.
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