ANTIGOS HERÓIS DE GRANDES PRÉMIOS A
DESAPARECER
Vivi de
perto, como jornalista de “O Volante” e de “A Capital” – e para outras
publicações – o mundo dos Grandes Prémios de Fórmula 1 de 1969 a 1975. Nessa
época, já a F1 não vivia o medo do início dos anos ’60 quando era rara a
temporada em que não morriam nas pistas quatro ou cinco pilotos.
O meu amigo
Ivan Vicario, diretor da “Coches Clasicos” atribui a Jo Ramirez a famosa frase
então sobre essa era, mas, francamente já não me lembro se foi mesmo o
ex-mecânico da Tyrrell e mais tarde chefe de equipa da McLaren. O certo é que
essas palavras definiram um período do automobilismo internacional de topo:
“When sex was safe and racing was
dangerous”.Claro que depois do trágico fim-de-semana de Imola, a 1 de maio de 1994, com as mortes de Roland Ratzenberg e de Ayrton Senna a deixarem o desporto em estado de choque, já que nos 18 anos anteriores não tinha havido qualquer acidente fatal na F1, o automobilismo de topo, e não só, ganhou muito em segurança ativa e passiva. A ponto de hoje – apesar de alguns acidentes fatais nos últimos anos em categorias menores – temos por garantido que a morte foi afastada dos Grandes Prémios. É coisa em que já nem se pensa, como na década de sessenta.
Festejos pelos novos campeões e falta e
memória pelos ídolos do passado
Talvez por
isso agora apenas pensamos em festejar – e bem – o sucesso dos pilotos, como
tetra de Vettel.Mas, o que é pena, é nem sequer a dita imprensa especializada ligar ao desaparecimento de grandes estrelas do passado, que encheram as pistas de há quatro a seis décadas com o seu talento em carros muito mais difíceis de pilotar e que mais eram velozes caixões, dada a sua falta de segurança a todos os níveis.
As estrelas ou os meros heróis de coragem que participavam em GPs nesse tempo, continuam a morrer, não em acidentes, por falte de segurança, mas pela sua avançada idade. E, todos os anos temos lamentado a partida de três a quatro desses ídolos do passado.
50º aniversário do CIAPGPF1, no Museu da Mercedes em Stuttgart, agosto 2012 (foto G.Gauld).
Nos últimos
dez anos tenho convivido regularmente com os membros do CIAPGPF1-Clube dos
Pilotos de Grande Prémio (deixaram cair o nome original de Club des Anciens
Pilotes de Grand Prix de Formula 1, já que este título afastava alguns atuais pilotos
de aderirem ao clube pela idiota conotação que poderiam dar à palavra “Anciens”…).
E, nos últimos anos tenho sentido o falecimento de amigos ou conhecidos, grandes ou menores estrelas do passado, dentro e fora das pistas, como Bernard Cahier (líder durante mais de duas décadas dos jornalistas de GP e fundador da associação dos jornalistas de Grande Prémio), Phil Hill (primeiro Campeão do Mundo norte americano, em 1961), José Froilán Gonzalez (primeiro piloto a dar uma vitória à Ferrari no Campeonato do Mundo de F1 – GP da Grã-Bretanha de 1951), Clay Regazzoni, Roy Salvadori, Mike Sparken (Michael Poberejski , que pilotou um Gordini no GP da Grã-Bretanha de 1955, e foi durante anos, junto com sua última mulher, Esmeralda, minhota, os amáveis e incomparáveis anfitriões das reuniões e almoços do CIAPGPF1 em sua casa em Beaulieu-sur-Mer - foto abaixo), e outros com quem tinha menos afinidade.
Tony Gaze faleceu há pouco tempo, aos 92 anos.
Nas últimas
semanas vimos partir mais dois amigos, o australiano Tony Gaze, que foi um dos
pilotos que, pela RAF, aos 21 anos, descolavam de Spitfire do aeroporto de Westhampnett
durante a II Guerra Mundial, sendo abatido sobre Le Treport em 1943. Conseguiu
voltar para Inglaterra, foi promovido a “Squadron Leader” e foi condecorado com
duas “Distinguished Flying Cross”.Em 1946 sugeriu ao Duque de Richmond and Gordon – dono das terras onde foi construído esse aeródromo de guerra e conhecido como Freddy March no meio automobilístico – que as estradas periféricas à pista fariam um belo circuito. Freddy – bisavô do atual Lord March – fez algumas voltas e concordou.
E assim nasceu o circuito de Goodwood.
Tony foi dos muito poucos que, depois do conflito, em 1951, depois de ter corrido na Austrália, usou de novo as terras do seu amigo – já no circuito de Goodwood – mas ao volante de um Alta F2.
No ano seguinte correu nos GPs da Bélgica, Inglaterra e Alemanha, primeiro com o mesmo carro, que trocou por um HWM-Alta.
Depois dedicou-se a carros de sport, tendo corrido com Maserati, e esteve presente no II Grande Prémio de Portugal, no Circuito da Boavista, em 1953, com um Aston Martin DB3/9, seis cilindros com 2.922cc, debitando 160cv. No entanto, o australiano foi um dos vários acidentados e fraturou várias costelas.
Voltou à Boavista em 1954, em HWM, não tendo passado dos treinos, e no ano seguinte com um Aston Martin DB3S oficial, com que foi 8º no V GP de Portugal.
Tony esteve connosco no Grande Prémio Histórico do Porto de 2007 quando organizámos a celebração dos 45 anos do CIAPGPF1. Andou à procura do “excelente médico que o tratara” 54 anos antes, mas, claro não o achou. Faleceu aos 92 anos.
Funeral de Henry Taylor foi hoje.
Aos 82 anos,
faleceu um improvável piloto de F1. Agricultor, sempre quis ser piloto,
tendo-se iniciado com os Cooper de F500, e ganhou os campeonato de F2 em 1955 e
56, tendo-se mostrado rápido também em Jaguar D, a ponto de Reg Parnell lhe dar
uma chance em Grandes Prémios ao volante de um Cooper, tendo-se estreado em
Aintree no GP da Grã-Bretanha. Na Equipa Yeoman-Credit (a primeira equipa da
história da Fórmula 1 com nome do seu patrocinador participou (partiu para a
corrida) em cinco GPs, em 1960, tendo como melhor resultado um 4º em Reims, França,
no primeiro ano. Em 1961 correu na Lotus, e o seu melhor resultado foi 10º.
À chegada ao Porto, 1960: J.Cooper, Henry Taylor, J. Clark, S. Moss, I. Ireland, G. Hill e J. Bonnier.
Correu na
Boavista em 1960, mas bateu com o Cooper-Climax nos treinos (foto acima).
Depois passou
para os rallies com um Ford Cortina, abandonando como piloto em 1965, para se tornar
Diretor de Competições da Ford, de que se reformou para viver no sul de França,
onde passou a negociar em barcos.