Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

domingo, 3 de novembro de 2013

FÓRMULA 1: TECNOLOGIA, ESPETÁCULO E PILOTAGEM.
Podíamos passar horas a discutir este assunto ou escrever páginas e páginas e sempre haveria quem tomasse um dos lados destas questões:
- Os carros de Fórmula 1 atuais, com toda a sua tecnologia, são (ou não) mais fáceis de pilotar que os do início da categorias, ou mesmo os das década de ’70 e ’80? No fundo até às grandes viradas, quando a Ferrari, com o comando técnico de John Barnard estreou no GP do Brasil de 1989, em Jacarepaguá, a primeira caixa de velocidades semiautomática.
- O espetáculo melhorou ou não com as novas tecnologias?
- E com os pneus “feitos por encomenda” de Bernie Ecclestone para “baralhar” o espetáculo?
Nuvolari, Auto Union, GP Alemanha 1938
Certamente que o GP de Abu Dhabi de hoje teve, atrás de Vettel, dezenas de ultrapassagens e trocas de posições. Como Mr.E queria. Mas, será que o público e os telespetadores são completamente parvos e para eles essas ultrapassagens conseguidas à custa do KERS e do DRS, são o espetáculo que querem realmente ver? Claro, com exceção de algumas excelentes ultrapassagens feitas graças à superior pilotagem de alguns (muito poucos) dos 22 pilotos do plantel.
Não será tudo muito artificial? Para mim é!
Não se trata de saudosismo piegas de quem segue a F1 há mais de 44 anos como jornalista e como espetador há 55 anos.
Poderia fazer comparações com eras anteriores, quando, por exemplo, Rosemayer ou Stuck ou Nuvolari dominavam e ganhavam com os monstros Auto Union Tipos A ou D, de motor traseiro, em Nürburging nos anos ’30, antes da II Grande Guerra. Ou Fangio ou Moss nos Mercedes de 1955.
Fangio, Mercedes W196, GP Buenos Aires 1955
Reportando-me apenas ao período que acompanho mais de perto a F1, acho que pilotar os carros antes dos automatismos neles introduzidos – sobretudo caixas de velocidades – facilitou a pilotagem e nivelou por baixo a necessidade de uma técnica apurada de pilotagem. Claro que os carros atuais têm complicadores em muito maior grau e os pilotos têm de ter um poder de concentração em todos os botões do seu volante. E, trocar de velocidade de caixa milhares de vezes durante um GP de Monaco, por exemplo? E pilotar F1 sem direção ou travões hidraulicamente assistidos?

Futebol ou basketball, Mr E,?
Claro que Mr.E tem razão quando diz que o maior número ou frequência de trocas de posições dos carros durante um GP são um atrativo para o público. Mas, só os leigos se podem entusiasmar com essas ultrapassagens artificiais. No fundo, com os KERS, os DRS e os pneus atuais, Ecclestone está a contradizer-se quando há uns anos desculpava-se com a monotonia dos Grandes Prémios, afirmando que para ele., “a Fórmula 1 de ser como o futebol, em que os grandes golos (ultrapassagens) não são muitos, mas são espetaculares; o público não pode esperar que a F1 seja como basketball…”.
Pois o GP de hoje em Abu Dhabi mais pareceu um jogo de basket…
Que saudades das ultrapassagens sem estas ajudas, apenas com a possibilidade de usar, por vezes e nem sempre, do vácuo aerodinâmico do carro da frente, o que requeria muita precisão. Agora é só carregar nos botões do KERS e da abertura ao aerofólio traseiro e passar na reta um indefeso piloto que não tenha a possibilidade de fazer o mesmo. É divertido, lá isso é. Do mesmo modo que uma corrida de carrinhos de Scalextric…

Os pneus condicionam muito as corridas
Claro que os novos pneus são um novo fator que obriga a uma enorme capacidade estratégica das equipas e a uma disciplina de pilotagem. Claro que a Pirelli não é responsável pelo comportamento e durabilidade muito mais variável dos pneus atuais que foram concebidos para satisfazer a encomenda de Mr.E. Os seus pneus poderiam durar um ou dois GPs inteiros. Mas , não foi isso que lhes pediram…
Este novo fator pode ser interessante em algumas provas, mas, de um modo geral, apenas confunde o espetador e não lhe dá a plena capacidade de apreciar todo o potencial de cada piloto, que pode – ou não – estar a ser sujeito a uma estratégia que condiciona as suas capacidades de ser mais rápido.
E, no fundo, um GP, a F1, é, apenas e somente, uma corrida de velocidade pura. Queremos todos ver quem pode e consegue andar mais depressa, sem ajudas externas ou condicionalismos.
A.Senna, Monaco 1985, Lotus-Renault

Estratégias ou velocidade
Claro que muitos poderaão dizer que agora, os pilotos têm de ser vistos e apreciados pela sua capacidade de jogar com todos esses fatores. Mas, isso não é uma F1 pura, como ver um Chris Amon numa Ferrari ou um Gilles Villeneuve ou um Ayrton a darem tudo por tudo. Ou um Jaclie Stewart ou um Alain Prost a gerirem suas mecânicas mais frágeis que as atuais para vencerem provas à menor velocidade possível – “to win you must first finish”…
Poderíamos aproveitar a fiabilidade dos F1 de hoje – o único abandono (Raikkonen foi devido a um toque na primeira volta) – para ver corridas mais rápidas e ultrapassagens mais nos limites verdadeiros – do carro e do piloto – sem ajudas (“externas”).
É o que temos, e aqueles que dão mais importância à tecnologia do que ao fator humano devem estar todos satisfeitos. Eu não estou, ao ver que “qualquer um” (claro que qualquer dos 22 pilotos do grid de F1 não é é um qualquer piloto, nem mesmo os que lá estão coma ajuda de alguns milhões de seus patrocinadores) abre o DRS e carrega no botão do KERS para lhe dar mais uns 80 cavalos e ali vai ele a ultrapassar quem estiver à sua frente a menos de 1 seg. de diferença.
Que saudades da F1 pré-1989!

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