Prometi que transcreveria aqui a mensagem que dei aos cerca de 500 participantes no PORTUGAL MOTORSPORT AWARDS DE 2013.
Aqui vos deixo a versão integral já que o "recado" que eu dei na altura foi mais curto para não enfadar ainda mais os convivas que continuaram a fazer barulho com as suas conversas sobre os seus feitos ou sobre ... o "sexo dos anjos"...
O ESTADO DO AUTOMOBILISMO NACIONAL – JANEIRO
2013
A COISA MAIS IMPORTANTE DA VIDA
De um jogo
de futebol já houve quem lembrasse: “É a coisa mais importante da vida, mas é
apenas um jogo”.
Diria
ao contrário: os automóveis são apenas um desporto, mas, para nós, é das coisas
mais importantes da vida. Porque é uma das nossas paixões … a que nos traz aqui.
AGRADECIMENTO E ALERTA
Estas
minhas palavras, além de agradecimento, serão, acima de tudo, um alerta … … não
com o meu suposto “mau-feitio”, mas com a habitual frontalidade.
Ao
longo das nossas vidas, o automobilismo deu-nos muitas alegrias e motivos para
lhe dedicarmos o nosso tempo e o tempo que roubámos às nossas famílias.
No entanto,
o balanço do deve e haver … dá que
pensar …
Para
muitos, sobretudo para os mais jovens, o nosso desporto justifica tudo.
Mas, ao
fim de 50 anos como jornalista, piloto, organizador e promotor não sei se o meu investimento teve o retorno
correspondente à dedicação.
Sobretudo
no atual estado do automobilismo, com a postura, as atitudes e as opções de
muita gente dos automóveis – aqui e lá fora – pergunto-me se continua a
justificar esta minha paixão.
Tenho
dúvidas.
DECEÇÃO e EXEMPLOS
E é uma
pena eu estar dececionado, pois o automobilismo é tão emocionante que fico triste
por ter motivos – como a maioria de vocês – para estar desiludido com algo que amamos.
Chego
ao ponto de me perguntar se neste país … com esta economia e este mercado,
devia sequer haver automobilismo.
Pelo
menos no estado em que está agora …
Claro
que a prova de que vale a pena é a nossa presença aqui, nesta festa que o Luis e o Artur muito bem criaram há 3
anos e realizam de forma impecável.
Se estou
aqui e recebi esta homenagem que mais me sensibiliza por ser diante de vocês, é
porque houve muito boa gente que me
mostrou – com o seu exemplo ou os seus ensinamentos – como eu devia agir.
Na comunicação…
Gente como Vitor Santos, Carlos Pinhão, Mário Zambujal, Aurélio Márcio ou Vitor
Direito; Couto e Santos e Augusto Vilela; Albérico Fernandes, Fialho Gouveia,
Carlos Cruz; ou John Webb e John Hogan.
Foi com
eles que aprendi a ser jornalista, autor, editor e profissional de marketing.
Na
organização e promoção de eventos … César Torres, José Mégre, Heitor Morais,
Thierry Sabine, Carlos Fonseca ; além de Martin Peterkin. Foram eles que me
mostraram como fazer os Ralis, os Enduros, os Historic Festival que as minhas
equipas realizaram.
Ou
ainda Henrique Burnay Bastos, David Wood e tantos outros.
NÃO ESPEREM PELAS MUDANÇAS. FAÇAM ALGO
Para
vocês, o automobilismo deve ser muito
mais do que tem sido nos últimos anos.
Não
fiquem à espera de mudanças.
Têm de
ser vocês a mudar o automobilismo, que está enfadonho e moribundo de uma peste
cujo vírus vocês sabem a origem.
O automobilismo
nacional deve ser aquilo por que nos apaixonámos e deve trazer alegria e
retorno a todos nós … sobretudo satisfação.
Lembrem-se
que vocês, os concorrentes, são os
“palhaços” de um circo que não existe sem vocês. São a parte mais
importante que tem sido tratada e se tem
comportado como o elo mais fraco.
RECONQUISTAR PROJEÇÃO E POPULARIDADE
Este
último ano mostrou quanto os portugueses se têm notabilizado em competições
internacionais. Pelo seu mérito individual. Sejamos dignos do seu sucesso e lutemos, para que o automobilismo nacional
volte a ter a projeção e a popularidade e a saúde que teve durante tantos anos.
Alguns
de vocês ainda se lembram de às 3 e 4 da matina, em plena serra de Arganil ou
na Senhora da Graça serem incentivados por dezenas de fans.
Ou, em
Vila Real … a ganharem mais uns centímetros na perna direita para manter o
prego a fundo na descida de Mateus depois de milhares os terem aplaudido na
subida.
É a
essa alegria que me refiro. Do entusiasmo de um automobilismo com vida, que
servia a todos e não a alguns. Que era – como na Grã-Bretanha – concebido e
regulado segundo o interesse dos participantes.
Esta mensagem
é feita com a paixão que nos une e me obriga a lembrar-vos: O nosso
automobilismo está podre e moribundo.
A sua
sobrevivência depende muito de muitos vocês imporem os valores certos.
Somos
um povo de brandos costumes.
É isso
que tem mantido muitos dirigentes no seu dourado trono.
Sempre soubemos
quando já basta de aguentar … e, já
aguentámos demais … o nosso automobilismo já está farto … de tanto suportar.
A culpa
é só da crise ??? … Poupem-nos …
É
preciso mudar muita coisa …
Há
nesta sala tanta gente que deve usar
parte das suas capacidades para salvar o automobilismo. Da forma que o
vosso engenho e paixão vos ditar. Não se
furtem a isso.
Temos
todos a ganhar com essa mudança. Alguns perderão com isso mas esse é problema
deles, que têm causado tantos danos ao automobilismo.
O vosso
… é salvar o que resta …
Por
outro lado … também há coisas boas a
acontecer, como a Single Seaters Series e os novos Classic Super Stock.
Este é
um exemplo a ser acarinhado com paixão e dedicação, e não com as habituais barreiras
de interesses.
Peço
também à Comunicação Social uma
linha editorial mais ativa.
Deem
mais espaço aos automóveis. Não se omitam. Não encubram situações danosas.
Pesquisem. Para que as verdades sejam divulgadas.
Os
automóveis precisam da vossa ajuda e … os leitores agradecerão.
Todos
merecemos um automobilismo melhor, com uma postura mais transparente e saudável
de todos os agentes.
Tratem
dele. Com urgência.
Antes
que morra de vez. De morte matada.
Por
último, “but not the least” quero pedir desculpa à Lena … à Jo … e às minhas
filhas Patricia e Rita por esta paixão lhes ter roubado muito da minha vida e
agradecer-lhes o apoio que sempre me deram … … ajuda que também tive das minhas
equipas de trabalho.
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