Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

sábado, 8 de março de 2014


Prometi que transcreveria aqui  a mensagem que dei aos cerca de 500 participantes no PORTUGAL MOTORSPORT AWARDS DE 2013.
Aqui vos deixo a versão integral já que o "recado" que eu dei na altura foi mais curto para não enfadar ainda mais os convivas que continuaram a fazer barulho com as suas conversas sobre os seus feitos ou sobre ... o "sexo dos anjos"...

O ESTADO DO AUTOMOBILISMO NACIONAL – JANEIRO 2013

A COISA MAIS IMPORTANTE DA VIDA

De um jogo de futebol já houve quem lembrasse: “É a coisa mais importante da vida, mas é apenas um jogo”.

Diria ao contrário: os automóveis são apenas um desporto, mas, para nós, é das coisas mais importantes da vida. Porque é uma das nossas paixões … a que nos traz aqui.
 

AGRADECIMENTO E ALERTA

Estas minhas palavras, além de agradecimento, serão, acima de tudo, um alerta … … não com o meu suposto “mau-feitio”, mas com a habitual frontalidade.

Ao longo das nossas vidas, o automobilismo deu-nos muitas alegrias e motivos para lhe dedicarmos o nosso tempo e o tempo que roubámos às nossas famílias.

No entanto, o balanço do deve e haver … dá que pensar …

Para muitos, sobretudo para os mais jovens, o nosso desporto justifica tudo.

Mas, ao fim de 50 anos como jornalista, piloto, organizador e promotor não sei se o meu investimento teve o retorno correspondente à dedicação.

Sobretudo no atual estado do automobilismo, com a postura, as atitudes e as opções de muita gente dos automóveis – aqui e lá fora – pergunto-me se continua a justificar esta minha paixão.

Tenho dúvidas.

 

DECEÇÃO e EXEMPLOS

E é uma pena eu estar dececionado, pois o automobilismo é tão emocionante que fico triste por ter motivos – como a maioria de vocês – para estar desiludido com algo que amamos.

Chego ao ponto de me perguntar se neste país … com esta economia e este mercado, devia sequer haver automobilismo.  

Pelo menos no estado em que está agora …

Claro que a prova de que vale a pena é a nossa presença aqui, nesta festa que o Luis e o Artur muito bem criaram há 3 anos e realizam de forma impecável.

Se estou aqui e recebi esta homenagem que mais me sensibiliza por ser diante de vocês, é porque houve muito boa gente que me mostrou – com o seu exemplo ou os seus ensinamentos – como eu devia agir.

Na comunicação… Gente como Vitor Santos, Carlos Pinhão, Mário Zambujal, Aurélio Márcio ou Vitor Direito; Couto e Santos e Augusto Vilela; Albérico Fernandes, Fialho Gouveia, Carlos Cruz;  ou John Webb e John Hogan.

Foi com eles que aprendi a ser jornalista, autor, editor e profissional de marketing.

Na organização e promoção de eventos … César Torres, José Mégre, Heitor Morais, Thierry Sabine, Carlos Fonseca ; além de Martin Peterkin. Foram eles que me mostraram como fazer os Ralis, os Enduros, os Historic Festival que as minhas equipas realizaram.

Ou ainda Henrique Burnay Bastos, David Wood e tantos outros.

 

NÃO ESPEREM PELAS MUDANÇAS. FAÇAM ALGO

Para vocês, o automobilismo deve ser muito mais do que tem sido nos últimos anos.

Não fiquem à espera de mudanças.

Têm de ser vocês a mudar o automobilismo, que está enfadonho e moribundo de uma peste cujo vírus vocês sabem a origem.

O automobilismo nacional deve ser aquilo por que nos apaixonámos e deve trazer alegria e retorno a todos nós … sobretudo satisfação.

Lembrem-se que vocês, os concorrentes, são os “palhaços” de um circo que não existe sem vocês. São a parte mais importante que tem sido tratada e se tem comportado como o elo mais fraco.

 

RECONQUISTAR PROJEÇÃO E POPULARIDADE

Este último ano mostrou quanto os portugueses se têm notabilizado em competições internacionais. Pelo seu mérito individual. Sejamos dignos do seu sucesso e lutemos, para que o automobilismo nacional volte a ter a projeção e a popularidade e a saúde que teve durante tantos anos.

Alguns de vocês ainda se lembram de às 3 e 4 da matina, em plena serra de Arganil ou na Senhora da Graça serem incentivados por dezenas de fans.

Ou, em Vila Real … a ganharem mais uns centímetros na perna direita para manter o prego a fundo na descida de Mateus depois de milhares os terem aplaudido na subida.

É a essa alegria que me refiro. Do entusiasmo de um automobilismo com vida, que servia a todos e não a alguns. Que era – como na Grã-Bretanha – concebido e regulado segundo o interesse dos participantes.

Esta mensagem é feita com a paixão que nos une e me obriga a lembrar-vos: O nosso automobilismo está podre e moribundo.  

A sua sobrevivência depende muito de muitos vocês imporem os valores certos.

Somos um povo de brandos costumes.  

É isso que tem mantido muitos dirigentes no seu dourado trono.

Sempre soubemos quando já basta de aguentar … e, já aguentámos demais … o nosso automobilismo já está farto … de tanto suportar.

A culpa é só da crise ??? …  Poupem-nos …

É preciso mudar muita coisa …

Há nesta sala tanta gente que deve usar parte das suas capacidades para salvar o automobilismo. Da forma que o vosso engenho e paixão vos ditar. Não se furtem a isso.

Temos todos a ganhar com essa mudança. Alguns perderão com isso mas esse é problema deles, que têm causado tantos danos ao automobilismo.

O vosso … é salvar o que resta …

Por outro lado … também há coisas boas a acontecer, como a Single Seaters Series e os novos Classic Super Stock. 

Este é um exemplo a ser acarinhado com paixão e dedicação, e não com as habituais barreiras de interesses.

Peço também à Comunicação Social uma linha editorial mais ativa.  

Deem mais espaço aos automóveis. Não se omitam. Não encubram situações danosas. Pesquisem. Para que as verdades sejam divulgadas.

Os automóveis precisam da vossa ajuda e … os leitores agradecerão.

 

Todos merecemos um automobilismo melhor, com uma postura mais transparente e saudável de todos os agentes.

Tratem dele.  Com urgência.

Antes que morra de vez. De morte matada.

Por último, “but not the least” quero pedir desculpa à Lena … à Jo … e às minhas filhas Patricia e Rita por esta paixão lhes ter roubado muito da minha vida e agradecer-lhes o apoio que sempre me deram … … ajuda que também tive das minhas equipas de trabalho.

Sem comentários:

Enviar um comentário