Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

CRÓNICA DE HÁ SEIS ANOS, AINDA ATUAL

As minhas desculpas a todos por ainda não ter escrito nada esta semana, mas problemas de saúde e os respetivos compromissos médicos não me deixaram criar nada suficientemente bom que vos merecesse.
Por isso fui à procura de um texto ainda não publicado e que tivesse algum interesse. Aqui está, escrito há mais de seis anos, e, claro, é preciso ser lido nesse contexto temporal (inclusive a ortografia pré-acordo…):  
 
Londres: cada vez menos acessível.
Não me sairá jamais da memória. Em Dezembro passado apanhei um táxi de Heathrow para South Kensington (cada vez mais atraente este bairro da minha juventude) e quando cheguei ao hotel paguei £50 pela corrida. O taxista riu-se quando eu lhe disse que ele estava recebendo o mesmo, por esta corrida, que eu, há quarenta e três anos recebia do meu pai como mesada.
Está realmente muito, muito caro viver em Londres.
Dois dias depois fui para Paris. Desta vez, por comboio para evitar todo o tumulto e loucuras da segurança aeroportuária britânica. O Pedro da agência de viagens riu-se imenso quando eu lhe pedi um lugar em carruagem com cama. É que nos “meus tempos de londrino” a viagem levava a noite inteira. Agora é mais rápido do que de avião: em 3h 30m vamos do centro londrino ao centro parisiense.

Livingstone: Londres sem carros
Na semana passada voltei a Londres. Não é que o Mayor Livingstone aumentou a área sujeita ao “congestion charge” em mais uns 5km para cada lado?  
“Ele simplesmente odeia automóveis e automobilistas”, comentava John Hugues,  Presidente da Comissão de Históricos da FIA-Federation Internationale de l’Automobile.
“É um recalcado. Há os “have e os have not”, e ele, coitado revolta-se por nunca ter tido nada”, apontava John Hogan, ex-Vice Presidente da Philip Morris e agora director de uma das maiores companhias de marketing desportivo do mundo.
Não dá. Realmente desisti definitivamente de uma das coisas que mais gozo me dava – guiar através de Londres, atravessar Hyde Park, entrar na Trafalgar Square pelo Pall Mall, ou percorer Chelsea, South Kensington, enfim reviver a minha vida aqui no início dos anos sessenta. Agora tem mesmo de ser de táxi. Caríssimo. Ou talvez não pois há um ano só de multas de estacionamento e do “congestion charge” foram quase £200 em três dias.

O centro dos negócios
Mas, Londres, menos acessível continua a ser o centro da civilização, se com isto queremos (será?) apontar o mundo dos negócios cada vez mais aqui: “eu, para falar com os tipos da UBS (Union de Banques Suisses) é no escritório em Londres”, lembrava Hogan. Por isso vim aqui para me reunir com os dois Johns.

Ajuda de um grande “guru”
Nós, em Lisboa, estamos cada vez mais arredados dos centros de decisão das grandes companhias. Como a minha ambição é dar aos eventos da Talento uma projecção internacional, com parceiros e patrocinadores multinacionais, tive de me vir aliar a um dos maiores “gurus” da estratégia do marketing desportivo, sobretudo de desportos motorizados. Não só eu: a própria Comissão de Históricos da FIA que, com esta nova presidência de um grande executivo inglês, pretende dar um salto a médio prazo em termos de projecção internacional dos eventos e da modalidade.

O requinte londrino
John Hugues estava louco por receber de mim a versão espanhola da minha biografia do Ayrton Senna (a maioria dos estrangeiros percebe melhor o espanhol – será pela falta de promoção da língua portuguesa?...) e adorou receber os meus primeiros dois livros sobre o Ayrton, aventurando-se mesmo a ler partes do “Ayrton Senna Saudade” enquanto esperávamos o outro John.
Eu nem me importava de esperar o dia inteiro ali, naquele ambiente. Em muitos anos de Londres jamais tinha entrado no Wolseley, um restaurante mesmo ao lado do Ritz, em Piccadily, que acolhe desde as 8h a agitada sociedade de executivos londrinos aproveitando o seu “breakfast” para fazer as suas primeiras reuniões do dia. Nem sei como dá para discutir alguma coisa num ambiente devorador como aquele, que nos absorve todos os sentidos, seja para ver o modo como somos servidos, para admirar as jovens ou para olhar para a decoração.

As recordações boas e … más
Claro que se falou de Fórmula 1 pois foi esse o mundo em que John Hogan se destacou, sendo o motor que pés de pé a McLaren International quando esta surgiu como a evolução natural do Project 4 de Ron Dennis e da desorganização em que estava a McLaren de Teddy Mayer.
Claro que se falou do funeral do querido Creighton Brown, da figura inconveniente que Ron Dennis fez na cerimónia de homenagem a quem tanto o ajudou, inclusive com grande parte da sua fazenda no Brasil como garantia na formação da McLaren International. Mas, Ron parece ter uma memória demasiado … selectiva …
A ponto de numa reunião dos construtores de F1 há uns tempos ter tido a petulância de apontar aos seus colegas empresários que ”a F1 se esquece do papel dele” ao que Bernie Ecclestone terá sussurrado de forma para todos o ouvirem: “pelo seu trabalho como mecânico, talvez…”
Ron deve esquecer-se (mais uma omissão da sua memória) que Creighton foi o principal motor por detrás do projecto do super carro McLaren F1.
Enfim, coitado dele, Ron, que, com estas suas atitudes, perde p respeito que lhe deveria ser dado por tudo o resto, e muito que tem feito. Como é curioso que pessoas que começaram por baixo e subiram tanto têm vergonha das suas origens, quando deveria ser o contrário, pois têm todo o mérito, desde que os métodos usados para terem escalado tão alto tenham sido leais, legais e limpos. Mas, isso também acontece também em Portugal, e até no meio automobilístico…

1 comentário:

  1. Interessante demais sua biografia. Então... foste o promotor/organizador das etapas brasileiras do Mundial de Rali? Muitas memórias daqueles tempos? Fotos? Quando puder, compartilha com a gente...

    Afinal, a etapa ficou marcada pela primeira vitória de uma mulher na categoria principal, da Mouton... Certo?

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